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São muitos os motivos pelos quais o entrosamento de uma equipe de serviço é importante, dentre eles: uma ação eficiente quando em operações, redução de riscos para os policiais envolvidos e é claro muitas prisões com o menor desgaste possível.

Em um dos nossos serviços, nossa equipe tinha excepcionalmente duas guarnições de policiamento velado* (sempre dispúnhamos de apenas uma) e durante o serviço no começo da madrugada uma dessas guarnições solicitou apoio para uma abordagem na cracolândia da nossa área (Setor Comercial Sul). Várias guarnições deslocaram para o local informado via rádio.

A área informada pelo velado era repleta de arbustos e arvores alem da constante falta de iluminação o que favorecia a proliferação de crackeiros, que ficavam zanzando sem destino. Chegamos de forma coordenada, várias viaturas caracterizadas ao mesmo tempo, para não permitir a fuga de nenhum dos presentes, quem sabe assim alem dos usuários algum traficante iria cair junto.

Tudo começou bem, nós fardados deslocando em duplas ou trios (alguns usuários quando percebem estar em maior número tentam encarar) e os policiais do velado passando informações via rádio, até que um novato na equipe começou a verbalizar com um elemento que saia de trás dos arbustos, justamente da área menos iluminada da quadra:

– põe o que você está segurando no chão e vem para cá!

– anda logo cara, solta isso e vem para cá com as duas mãos na cabeça!!

E nada do cara responder, o que nos chamou a atenção e nos fez deslocar rapidamente para apoiar o companheiro. Mas mais rápido do que nosso apoio foi sua ação de bater no que o elemento carregava e tentar puxá-lo para fora dos arbustos. Voou maconha e dinheiro para todo lado, e junto com isso voaram palavras não muito agradáveis saindo da boca do elemento que saía dos arbustos, e entendemos o porquê das palavras não muito agradáveis. O elemento era o policial velado da outra equipe que tirou um serviço na nossa. Ele saiu esbravejando e foi a ultima vez que o vimos no serviço.

O novato não estava errado, não tinha como conhecer todos ainda, os policiais velados de nossa equipe ele conhecia, e ao perceber alguém aparecendo do nada ele deveria agir como agiu pensando primeiro na segurança de todos.

Quem esta sem farda tem que ter certeza de que todos os conhecem, afinal de contas não trabalhamos em um escritório onde nos vemos todos os dias, trabalhamos em equipes que não se encontram, equipes que eventualmente se encontram em formaturas ou reuniões. Por sorte a ação do novato visou primeiramente esvaziar as mãos do suspeito, se ele tem um pouco mais energia, o resultado seria muito pior do que alguns palavrões.

Nosso serviço não tem bolas de cristal, temos que reduzir as chances de erros, e um erro muito comum é pensar que o que para mim está claro também esta para todos.

*policiamento velado é o policiamento feito por policiais militares sem fardas, à paisana, com o objetivo de identificar crimes e acionar o policiamento ostensivo para que esse realize as prisões.

Cada área de patrulhamento devido à particularidades de terreno propicia ao marginal um “modus operandi” para a fugas. Com o tempo guarnições que trabalham no local passam a conhecer e obter sucesso na captura de marginais com muito mais facilidade. Essa é uma vantagem de se ter um pouco de experiência em certas áreas. E foi essa pequena vantagem (além da falta de preparo) que nos propiciou a captura de um ladrão de coletivos.

A noite estava tranquila e tudo indicava que seria um serviço calmo, estávamos patrulhando a 30 por hora na via quando percebemos um motorista de ônibus acenando para nós. Encostamos a viatura e o motorista nos informou sobre um jovem que tentara roubar o ônibus mas desistiu quando viu nossa viatura. O motorista indicou o caminho seguido pelo marginal e rapidamente desembarcamos, ficando na viatura somente o motorista que já seguiu com a viatura pela via para tentar fechar o cerco.

Segundo o motorista a tentativa ocorrera segundos antes de falar conosco o que nos dava certa vantagem. O beco apontado pelo condutor era próximo, menos de 100 metros e quando percebi já estávamos no beco. Eu bem atrás de meu companheiro de guarnição devido à minha piorada condição física (falha que tento remediar). Pela adrenalina na maioria das vezes só pensamos em correr, o mais rápido possível para tentar pegar o marginal, mas às vezes temos que diminuir a correria e aumentar a atenção.

Quando passei pelo primeiro beco entrei para a área escura reduzi (mais ainda) a velocidade e aguardei alguns segundo para minha visão se adaptar à escuridão da noite, e para minha sorte quando comecei a me ambientar vi o suspeito voltando por outro beco adiante correndo desesperadamente. Chamei via rádio meu companheiro que se encontrava rua acima e voltamos à via onde tudo começou. Entocamos-nos e aguardamos o suspeito que agora vinha andando tranquilamente pela rua como se nada tivesse acontecido.

Para seu azar o motorista havia conseguido perceber muitos detalhes de suas vestimentas e feições físicas. Depois de algum tempo de “conversa” o suspeito confirmou tudo. A sua correria foi para esconder a arma de fogo, onde o esperto achou que sem arma nada teriam contra ele.

O que ele fez é muito comum em nossa área, os criminosos fogem em zigue-zague, subindo algumas quadras, como que para que as testemunhas informem aos policiais o sentido que viram, e pouco depois mudam totalmente o sentido da fuga. Começando a fugir para oeste e no meio do caminho retornam para o leste. Antes dava certo, com o tempo nos adaptamos e já os esperamos nos dois sentidos.

 

Regras de ouro para o policial

1Em uma escala de sobrevivência nas ruas esta é uma das principais regras para o policial que trabalha nas ruas. Quando estamos no combate a grande maioria das ocorrências que lidamos é de pequeno potencial ofensivo. São brigas, pequenos furtos, acidentes, discussões domesticas, ameaças e por aí vai.

Com o tempo começamos a achar que tudo se resolve na conversa, que podemos chegar a ocorrências com armas no coldre. Que somente pela nossa viatura e nossa farda todos vão nos respeitar e cessar qualquer pensamento de agressão.

Um dia pode ter sido assim, hoje não. Atualmente estamos presenciando uma escalada sem precedentes da violência no Brasil. Já éramos um dos mais violentos do mundo, hoje estamos conseguindo bater nossos recordes em numero de mortes e usuários de entorpecentes. Toda essa violência cai sempre no nosso colo. Somos a última instancia de um estado falido no combate ao crime.

Não podemos nos dar ao luxo de achar que toda ocorrência é “mamão com açúcar”. Este áudio é de uma ocorrência onde uma operadora do Copom em São Paulo solicita a uma guarnição que desloque para um prédio onde vários moradores viram elementos suspeitos. O áudio desta postagem segue a partir do momento que a guarnição é recebida a rajadas de tiros. Policiais são baleados. Qualquer um poderia estar no lugar do policial que aciona o rádio.

Passa as algemas

Publicado: abril 8, 2013 em NAS RUAS

Muito do bom serviço do PM COMBATENTE vem das experiências das ruas e em uma ocorrência tranquila aprendi que algumas frases tem o momento certo para serem ditas e também omitidas.

Fomos chamados pela Central para uma denuncia de ameaça nas proximidades de um supermercado. Muitas dessas chamadas não resultam em nada, são apenas discussões onde uma das partes se sente constrangida ou qualquer coisa do tipo menos uma ameaça.

No local se tratava de um elemento ameaçando um dos funcionários do supermercado, autor da ameaça quando viu a viatura começou a sair de fininho do local do crime, mas rapidamente conseguimos detê-lo. Durante a revista pessoa achamos uma pequena faca em seu poder. Chamamos a vítima da ameaça e começamos a nos interar realmente dos fatos da ocorrência.

O funcionário do mercado com medo de retaliações resolveu não prosseguir com a denúncia, mas como o detido se encontrava alterado resolvemos levá-lo de lá até a delegacia mais próxima para verificar antecedentes criminais. No momento em que o policial que estava com ele solicitou algema para transportá-lo o até então detido virou um raio, conseguindo se desvencilhar do COMBATENTE e correr como nós nunca tínhamos visto antes.

Papa-léguas, ligeirinho, flash, todos perderiam fácil para o elemento que ao ouvir “ALGEMAS” correu como nunca tínhamos visto. Tentamos capturá-lo na corrida só que com quilos de equipamentos não foi possível, e a viatura não passava pelos becos que ele passou. Infelizmente perdemos o freguês, mas ganhamos a lição: falar algemas nunca mais, sempre nos comunicamos com sinais ou até mesmo palavras absurdas como coelho, bandeira, boina e por aí vai.

*em tempo, o policial que estava fazendo a revista tenha deixado as suas algemas na delegacia com outro detido.

Há principio são duas qualidades que rapidamente passariam como semelhantes, mas infelizmente no serviço de rua são totalmente desvinculadas. O problema é que muitas vezes nossos policiais antigos, que muitas das vezes passaram anos, décadas, trabalhando na área meio (não que não seja uma parte importante do serviço policial) e quando chegam a patentes e graduações superioras são incumbidos de assumir funções de supervisão operacional.

Em um desses serviços, durante um evento com várias bandas de rock no Plano Piloto, publico estimado de umas 6 mil pessoas, foi solicitado à PMDF segurança para o evento e como não poderia deixar de ser passaram à policia uma estimativa de público bem inferior à realidade. Para 6 mil pessoas, seis policiais militares (kkkkk). Resultado desta conta, um superior à beira de um  ataque cardíaco.

Assim que percebeu a discrepância da necessidade e do que dispunha o superior solicitou a várias unidades apoio, chegando mais de 20 policiais em 6 viaturas. Até aí tudo bem, fez o que normalmente seria feito, mas aí faltou o que chamamos de experiência nas ruas, experiência em eventos, experiência em comandamento. Nosso caro superior vendo jovens consumindo álcool, e a movimentação do público (em shows absolutamente normais) informou aos comandantes das guarnições que iria patrulhar no meio do público (aqueles mesmos 6 mil).

Todos os comandantes argumentaram, espuseram o porquê o porque não seria adequado o patrulhamento no meio do público em uma área sem iluminação, que nossa presença iria causar transtornos e riscos para os policiais mas o superior estava irredutível, quando um oficial de dia, experiente policial, já acostumado com eventos chegou, descordou do superior, apresentou argumentos ( os mesmos apresentados pelos comandantes de guarnição) e aí o superior três estrelas se rendeu, apenas colocando as viaturas com rotolight ligado em pontos estratégicos aumentando assim a sensação de segurança para os que assistiam o evento.

Situações como essas são vistas todos os dias, onde superiores que nunca foram das ruas não sabem ao menos falar ao rádio, não sabem lhe dar com ocorrências problemáticas que guarnições têm que relatar ao superior de área. O supervisor ou superior de dia, até mesmo o oficial de dia, têm que saber lidar com a área operacional, se ele chegou àquela graduação ou patente sem trabalhar nas ruas que então permaneça onde sempre trabalhou, pois nas ruas tudo já joga contra o POLICIAL COMBATENTE, se ainda estivermos preocupados com fogo amigo, ordens absurdas e/ou mal elaboradas, aí já é demais.

Ninguém tem que tirar mérito de ninguém, o policial pode ser um excelente policial trabalhando a vida toda atrás de um computador, mas não venha aos 45 do segundo tempo querer dar uma de operacional porque não vai acabar bem, e se fosse acabar mal só para ele tudo bem, mas com certeza acabará mal para seus comandados também.